quarta-feira, 14 de janeiro de 2009
Mil e uma utilidades
Há drogas que tem várias aplicações e tende-se a descobrir novas aplicações para drogas antigas a cada dia. O exemplo que vejo hoje que mais me chama a atenção é a memantina, um modular de receptor de glutamato tipo n-metil-d-aspartato, por isso denominado NMDA. Como o nome já diz, modula a neurotransmissão excitatória tipica de receptores glutamatérgicos e foi desenvolvida visando Alzheimer, principalmente num estado avançado onde a apoptose de neuronios por atividade aumentada de cálcio, calmodulina, caspase 9 leva a um circulo vicioso que gera glutamato que gera a liberação maior e mais prolongada de cálcio no SNC que leva a uma maior neurotransmissão glutamatérgia, indução de apoptose de neuronios via citocromo C e caspase 9 e por aí vai. Ele poderia ter um efeito benéfico retardando a degeneração neuronal, mas também controlaria a fase agressiva do paciente. Bem como há neuronios que usam o mesmo neurotransmissor mas tem atividades diferentes em diferentes áreas do cérebro, a memantina hoje está demonstrando benefício em enxaqueca, melhora de efeito de antidepressivo e hoje foi publicado um trabalho legal em esquizofrenia. Isso é tipico com drogas, quem se surpreende é quem não entende de farmacologia e acha que o efeito é restrito. Devemos analisar bem o processo de ação farmacológica e sobrepô-lo a outros pontos, todas as drogas apresentarão beneficios além daqueles ao qual ela mirou inicialmente, isso ocorre também com estatinas, os efeitos pleiotróficos das estatinas levarão as mesmas a serem aplicadas em inumeras outras patologias, inclusive a própria doença de Alzheimer, mas ainda para ser finalmente comprovado. Se imaginarmos em nossa mente um mapa metabólico, deveríamos pensar nisso com lógica, peguem um estradiol por exemplo, é um hormonio feminino (não apenas), que modula funções dos órgãos reprodutivos, mas tem efeito neuroprotetor no cérebro, tem efeito anti-inflamatório, estimula o anabolismo de osteócitos, fibroblastos e condrócitos, estimula a produção de óxido nitrico, estímula indiretamente a tirosinase, indiretamente inibe a catecolamina ortometiltransferase aumentando a concentração de neurotransmissor na fenda sináptica, modula a memória verbal e raciocínio dedutivo lógico, é anabolizante para os tendões. É molé? não, então qualquer droga que tenha efeito em receptor estrogenico poderá alterar todas estas funções, é só esperar para ver...
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Um comentário:
Isto é tão verdadeiro que os exemplos são vários. Existe a preocupação da ANVISA com relação a estes fármacos que passam a ser usados para uma nova indicação que costumamos chamar de off-label por não ter sido registrado para tal indicação. Acho importante que os fabricantes se atentem para o registro da nova aplicação e que os profissionais não passem a indicar uma droga para uma nova indicação só porque ouviu falar que funciona para tal doença. Pesquisar, pesquisar, pesquisar é a saída mais limpa.
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