domingo, 28 de junho de 2009

Intestino e aminoácidos

Há algumas semanas atrás a revista Aminoacids publicou um artigo interessante fazendo uma ligação com referencia a aminoácidos e saúde gastrointestinal. Ao contrário do que todos pensam, o aminoácido importante para síntese de matriz extracelular e consequentemente o aumento de função barreira, bem como o aminoácido importante para síntese proteica não é a glutamina... é a arginina. Estudos indicam que a arginina estimula diretamente o mtor (mammalian target of rapamycin) e que este estimulo leva a síntese proteica. Como uma orquestra afinada, a glutamina é usada diretamente no ciclo da pentose tornando-se uma fonte de energia para o enterócito. Daí temos a síntese proteica pela arginina e a energia pela glutamina. Vou mais além, o intestino usa a leucina para transformar o glutamato e ceto-glutarato em glutamina. Ou seja, leucina acaba sendo importante para a função intestinal e também para o fígado (já escrevi sobre este tema aqui), mas o glutamato também é importante para o fígado, participa na formação da glutationa, que é detoxificante hepático e corporal com relação a radicais livres, xenobióticos nucleofílicos e metais tóxicos. Imaginem, cetoglutarato precisa de leucina para formar glutamato. Glutamato precisa de leucina para formar glutamina. Glutamina origina citrulina, ornitina e arginina. Ornitina dá origem a poliaminas e a pirrolidone-5-carboxilato e posteriormente a prolina. Prolina é um aminoácido limitante na síntese de proteinas com ramificações, como o colágeno da matriz. Junte tudo num caldo. Glutamina é importante, arginina é importante e leucina também. Leve isso ao sistema gastrointestinal como um todo. Glutamina, arginina, leucina e n-acetilcisteína. Todos terão uma função importante no sistema, estimulando a síntese de proteína, formando prolina, estimulando colágeno, melhorando a função barreira da matriz intercelular intestinal. Enterócito usa glutamina para produção de energia porque precisa produzir energia para síntese proteica estimulada pela arginina. Prolina originária da glutamina é substrato para produção de colágeno. N-acetilcisteína fornece cisteína de boa disponibilidade para formação de glutationa, glutationa atua como detoxificante hepático. Uma boa pedida, arginina, glutamina, leucina e n-acetilcisteína.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Ecos da Health Ingredients

Fui dar aula na Health Ingredients na terça feira. Fui lá falar pela Mastersense sobre omega-3, lançaram um omega em pó, padronizado em DHA e EPA. Bem, este foi o ponto da minha aula. Bem, mas foi interessante, vi fornecedores de inúmeros produtos que, teoricamente seriam acrescentados em alimentos para beneficios a saúde. Nem todos serão aprovados, mas alguns são bastante úteis. Vi um extrato de Trigonella fenugreek padronizado em hidroxileucina, a hidroxileucina será um grande produto no futuro, os estudos mostram melhora do efeito da insulina, é o efeito da Trigonella, usada em diabetes na india. Vi também um extrato padronizado em floridzina, da maçã. Este flavonóide inibe a alfa-amilase e estimula a secreção de glicose na urina, um efeito dual no diabetes melitus, seria um ótimo sinérgico para o tratamento tradicional ou mesmo suplementos, como o cromo. Também me chamou a atenção um produto que é um peptidio numa sequenca prolina-prolina-isoleucina. Toda sequencia peptidica prolina-prolina mais um aminoácido ramificado tem efeito inibidor da enzima conversora de angiotensina, e assim é com este peptidio, não sei se liberarão o produto, mas é um produto bom para o mercado. Aliás, foi publicado um estudo há umas tres semanas mostrando que o consumo de leite fermentado tinha efeito benéfico na hipertensão arterial. Vários lançamentos interessantes. Mas o ponto que eu foquei foi o omega-3, a tendencia hoje é aumentar a ingestão de omega-3 na população, porém botar todo mundo para ingerir cápsulas é uma discrepancia. Então ocorre que as industrias estão pensando em por omega-3 em tudo, daí nós podemos por exemplo, com este produto inovador, acrescentar omega-3 (EPA + DHA) num suco, numa geléia, num biscoito, bolo, leite, etc. Assim ao consumirmos os alimentos do dia a dia, ingeriríamos os produtos meio que sabendo mas não percebendo.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Pele, nutricosméticos, cosmecêuticos

Esta semana saiu a revista Cosmetics & Toiletries onde eu participo de um tema sobre nutricosméticos. O termo é obvio, podemos abranger este de duas formas. Cosméticos que nutrem, fornecendo elementos essenciais a função da pele, promovendo mudanças bioquimico/fisiologicas que trazem benefício cosmético a pele. Ou suplementos que ingeridos, também promovem mudanças que trazem beneficio cosmético a pele. A idéia central é que, nutrientes fornecidos de forma adequada tem benefício a pele. Isso é publicado de tempos em tempos pela literatura nas mais variadas revistas. É histórico. O primeiro trabalho que li foi da década de 1970-1980, não me lembro com certeza, na mesma revista Cosmetic & Toiletries em lingua inglesa, uma associação de gelatina + glicina e seu beneficio em rugas. Este foi o primeiro trabalho que eu li, não sei se o primeiro publicado. Continuei acompanhando trabalhos e de tempos em tempos eu me deparava com trabalhos sobre colágeno hidrolisado e beneficio a pele (até hoje não está definitivamente comprovado o modo de ação), óleos essenciais, vitaminas (com relação a proteção solar e ultravioleta), minerais (zinco, selenio e silício). Aminoácidos sulfurados também tem papel importante na formação das proteínas fibrosas, a queratina especificamente. De alguns anos para cá são publicados artigos sobre beneficio de suplementos e até extratos vegetais e pele, a saber: silício na forma de ácido ortossilício tem demonstrado melhorar a produção de matriz extracelular e também de proteínas fibrosas, melhorando cabelo, unha e pele. Colágeno hidrolisado tem demonstrado beneficio na produção de matriz também, hidratação da pele e consequentemente rugas. Acredito que o efeito do colágeno é devido a sua riqueza em aminoácidos quer participam de um ciclo único metabólico, ácido glutamico, arginina e prolina. O que mais me surpreende hoje é o óleo de borage (saiu escrito errado na revista), que devido a presença do ácido gama-linolenico, estimula a produção de ceramidas na pele, ceramidas tem função barreira, diminuindo a perda de água transepidérmica, melhorando hidratação e rugas. Por outro lado, a função barreira inibe translocação de antígeno, diminuindo respostas alérgicas e associa-se ao fato de que o ácido gama-linolenico via formação de ácido dihomogamalinolenico levará a produção de prostaglandina E1, que é imunossupressora. Vamos além, vitamina A, C e ácido lipóico tem sido associado a diminuição da lesão por radiação ultravioleta na pele, junte-se a estes os estudados extratos de Camelia sinensis, Polypodium leucotomos e Pinus pinaster, todos estudados para uma finalidade, diminuição da inflamação e lesão pela radiação ultravioleta em pele normal e pele sensível. Ainda há muito o que evoluir. Por exemplo, acredito que determinados ativos presentes em plantas que tenham efeito inibidor de NF-kB podem ser ingeridos para obtenção de um efeito anti-inflamatório na pele. A niacinamida tem demonstrado inibir a imunossupressão induzida pela radiação solar, vislumbrando no fim do túnel uma luz na prevenção de cancer. Some-se os efeitos de selenio, zinco e outros produtos aplicados topicamente teremos então uma verdadeira nutricosmética.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Ferrado

Há muito se fala sobre os riscos do ferro. O ferro é um oligoelemento essencial, importante em enzimas oxiredutoras por sua caracteristica de transitar valencia, tipo de +2 para +3 e o seu retorno. É importante componente da hemoglobina por este mesmo motivo, e também de enzimas várias. Bem, a deficiencia de ferro é bem caracterizada e é considerado um problema endemico em populações desnutridas. Outra face do ferro é o seu excesso. A primeira pergunta é quanto é o excesso de ferro no corpo, tendemos a acumular ferron tanto que não temos modo de excreção de ferro como temos por exemplo para zinco, cálcio, magnésio. Daí temos uma tendencia fisiológica a acumular ferro no organismo e este acumulo traduzido pela concentração de ferritina sérica pode causar transtornos sérios. Há comprovação que o ferro livre catalisa reações de Fenton e Haber Weiss, levando a formação de radicais livres. No caso da Fenton, o ferro catalisa a formação de radical livre hidroxil a partir de peróxido de hidrogenio, porém para fazer isso o ferro tem que estar na forma livre. O ferro ligado a ferritina tem suas valências fechadas ou ocupadas, daí a ferritia serve como padrão para avaliar o acumulo de ferro, mas eu acredito que o ferro livre é mais importante que o ferro da ferritina, mesmo tendo ferritina baixa, se o ferro livre estiver alto, haverá catálise. Alguns dados são interessantes. Hoje a presença de ferro na placa aterosclerótica é considerado um fator de risco modificável de doença cardíaca. Sabemos também que encontra-se ferro depositado no cérebro de pacientes com doença de Alzheimer, Parkinson e Huntington. Este acúmulo de ferro pode levar a uma maior gravidade da doença. Ferro catalisa reações de formação de radicais livres no corpo, e o seu acumulo é associado a maior prevalencia de doença cardíaca, diabetes e alguns tipos de canceres. Outro dado é associado a sobrecarga hepática de ferro, os sintomas são parecidos com hepatite tipo C. Há indicios que a quelação de ferro é importante como terapia auxiliar ao tratamento de hepatite com interferon, mas ao mesmo tempo é importante para o controle da tensão oxidativa em doenças neurodegenerativas. Manter o ferro sobre controle é o importante, nem em excesso nem falta.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Metformina

A metformina é uma biguanida, sucedânea da fenformina, foi lançada para tratamento de diabetes, ficou um tempo meio parada por conta do risco (da fenformina) em provocar acidose metabolica, na verdade a metformina pode levar, mas o risco é bem pequeno. Bem, hoje a metformina tem sido ressuscitada, melhora de resistencia periférica a insulina em ovário policistico e obesidade visceral, além do diabetes. Mas se olharmos para a resistencia periférica a insulina como ponto primário, todas as doenças citadas acima são iguais, diferentes em graus de resistencia a insulina, mas com a resistencia a insulina como caracteristica central em todas. Vou mais além, a metformina tem demonstrado efeito na melhora de esteatohepatite,diminuindo a carga de lipidios, que pode ter a ver com vários fatores, inclusive a resistencia a insulina. Imaginem que a gordura visceral é associada hoje até a lesão no cérebro, pelo menos foi publicado isso em japoneses. Ainda estamos descobrindo as consequencias da resistencia a insulina e da gordura visceral, porém precisamos urgentemente esclarecer estes fatos melhores. Eu particularmente acredito que é possível usar suplementos para melhorar a resistencia periférica a insulina, começo com a canela, que tem demonstrado efeito e é usado na medicina ayurvédica para diabetes. Cromo também tem mostrado diminuir resistencia a insulina em pacientes com lipodistrofia por antiretrovirais. Metformina reverte efeito adverso no metabolismo de insulina e gordura visceral em usuários de antipsicóticos atipicos. Ouso dizer que a fisiopatologia é identica e me imagino fazendo uma ligação. Se metformina funciona para reverter efeitos de antipsicóticos atipicos, o cromo revertendo efeito de antiretrovirais, cromo poderia funcionar em resistencia a insulina desenvolvida por antipsicóticos atipicos. Se funciona assim deve funcionar em gordura visceral, portanto em obesidade omental. O mesmo serve para a canela e a Gymnema. Imaginem um cromo associado a Gymnema/canela. Pode dar certo...? Eu acredito que sim. Mas creio que esta área, assim como o diabetes corre para o que podemos chamar de drogas modificadoras de doenças, associando por exemplo uma glitazona com uma biguanida e uma gliptina. Assim creio que o mecanismo de controle das doença será mais fácil e mais rigoroso. Creio que todos os tratamentos partem para este caminho. Creio também que tanto o diabetes, ovário policistico e obesidade omental devem envolver tratamento de reposição de nutrientes essenciais, focando principalmente em vitaminas, minerais e oligoelementos. Há indícios fortes de que, pelo menos no diabético, os niveis destes estão diminuidos no paciente, principalmente devido a um dismetabolismo onde o paciente diabético excreta mais produtos. Um exemplo é o cromo. Geralmente o diabético é deficitário de cromo, penso que o obeso omental também. Cromo por exemplo pode estar alto no cabelo do diabético, mas baixo no interior de suas células. Magnésio é excretado em maior nivel no diabético também. Abordagens múltiplas será o caminho definitivo.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Vitamina K

No congresso de prática ortomolecular eu não sei se fiz bem ou mal. Bem, na melhor das intenções eu tentei mostrar como é o modo de ação da vitamina K, solicite aos participantes do congresso (tem as fotos no orkut) e erguerem um braço e imaginarem um balão caindo para eles agarrarem, obviamente não conseguiriam. Ai pedi para levantar o outro braço, e imaginarem o balão caindo e eles agarrando o balão. O balão é o íon cálcio. Cada participante uma molécula de ácido glutamico ligado a osteocalcina. Cada braço uma carboxilação. Como o ácido glutamico é naturalmente carboxilado, o braço esquerdo eles já tinham. A vitamina K estimula a gama-carboxilação de resíduos de ácido glutamico formando um ácido glutamico com duas carbonilas ácidas, daí o braço direito e a capacidade de agarrar o balção. No caso do ácido glutamico, a capacidade de ligar ao cálcio no terminal de glutamico carboxilado da osteocalcina, daí ocorre melhor depósito de cálcio no osso e locais de depósito (cartilagem também) e menor calcificação ectópica, como por exemplo nas placas ateroscleróticas de mulheres pós-menopausa. É isso que a vitamina K faz, este papel é o mesmo na coagulação, carboxilando residuos de glutamico, só que neste caso especificamente, a carboxilação de terminais de ácido glutamico na osteocalcina dá uma capacidade ligante maior de cálcio. Osteocalcina subcarboxilada é um marcador de deficiencia de vitamina K, menos carboxilação, menos ligação com cálcio e mais cálcio livre para depósito ectópico. O raciocínio é simples. Vitamina D potencializaria este depósito na osteocalcina, daí vitamina K e D trabalhariam em sinergia para depositar cálcio no osso e para prevenir depósito ectópico, calcificação das artérias sendo o mais importante. Tentei gravar a aula hoje mas o sistema deu problema, vou tentar gravar novamente, mas ela está dada aqui, por isso precisei de 3 minutos para ensinar o pessoal sobre a aplicação e modo de ação. Vocês gastaram mais tempo lendo este texto, mas não tanto assim. Como eu sempre falo pros colegas, temos que ter a capacidade de passar a informação em tempos variados. Fiz isso por vários motivos, um deles porque, por brincadeira, um médico da mesa falou que faria a aula dele em menos tempo que a minha sem prejuizo do entendimento. Bem, ganhei a aposta. Mas depois voltei e mostrei as transparencias comprovando o que havia falado e ensinado nesta metodologia interativa. Vitamina K 1 ou 2, vitamina D3,cálcio e magnésio são, ao meu ver, obrigatórios em uma suplementação visando homeostase de cálcio em mulheres pós-menopausa.